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O que é a Terapia de Aceitação e Compromisso (ACT)?

Atualizado: 29 de mai. de 2022


Primeiro, entenda o que são Modelos Teóricos de Psicoterapia


Para começar essa conversa sobre Terapia de Aceitação e Compromisso (Acceptance and Commitment Therapy), conhecida como ACT, é importante que antes você compreenda o que significa modelo teórico de psicoterapia. No mundo da Psicologia existem diferentes teorias, que são diferentes formas de compreender o ser humano e de intervir diante do sofrimento psicológico. Existem muitas abordagens, por exemplo, a Psicanálise, a Teoria Sistêmica, o Humanismo, as Terapias Cognitivas e Comportamentais (TCCs). É extremamente aconselhável que o psicólogo escolha uma dessas abordagens para embasar o seu trabalho.

A abordagem teórica do psicoterapeuta define a forma com que o terapeuta irá enxergar o indivíduo, como irá avaliar os sintomas e, além disso, seu estilo de intervenção (os pontos levantados durante as sessões, os objetivos com o tratamento, a forma como ele irá se portar, etc.). A abordagem teórica influencia bastante a experiência do cliente com a psicoterapia, assim, diante de tantas opções, é interessante que você compreenda um pouco sobre a abordagem do seu psicoterapeuta antes de iniciar o tratamento, visando compreender se ela será adequada para você. Ah, a relação que se estabelece entre cliente e terapeuta (o quanto você se sente compreendido, o quanto você confia, etc.) também interfere muito no sucesso do tratamento, mas isso é papo para outro post!


As Terapias Cognitivas e Comportamentais e a ACT


No Brasil, acaba acontecendo uma pequena confusão em relação ao termo “TCC”. Quando falamos em “TCC”, as pessoas em geral pensam em uma só abordagem teórica, que é a Terapia Cognitiva criada por Aaron Beck. Essa teoria foi percursora, fundada nos anos 60, e, no Brasil, passou a ser chamada como TCC. Mas ao contrário disso, nos EUA – país de origem dessas abordagens – o termo TCC (em inglês, Cognitive Behavioral Therapies - CBT), se refere ao grande grupo de Terapias Cognitivas e Comportamentais, entre elas, as Terapias Comportamentais Contextuais, que inclui alguns modelos de psicoterapia, entre eles, a ACT.

Eu sei que é complexo e que são muitos termos! Espero que você esteja ainda aqui comigo, pois agora, finalmente, chegamos na ACT! A seguir, irei explicar brevemente sobre o que se trata essa abordagem! A teoria da ACT é bastante complexa e com toda a certeza não se esgota nos apontamentos a seguir.


Agora sim! Entendendo a Terapia de Aceitação e Compromisso


A ACT foi desenvolvida principalmente por Steven Hayes, um psicólogo e professor da Universidade de Nevada. Em alguns aspectos ela se aproxima da TCC Clássica (de Aaron Beck) e, em outros, se distingue. Ela começou a ser estudada nos anos 80 e, desde então, diversos estudos científicos se propuseram a investigar esse tratamento. A ACT apresenta evidências científicas de efetividade para diversos diagnósticos e sintomatologias, como a ansiedade, por exemplo.

A base da ACT é a Análise Funcional do Comportamento. Através disso é possível compreender o padrão de resposta do indivíduo às situações. Um comportamento só se mantém porque ele "funciona" (daí análise funcional) para alguma coisa. Por exemplo, vamos imaginar uma menina chamada Ana, e que ela tem medo de conversar com pessoas. Ao investigar a fundo seu comportamento, a analise funcional pode nos indicar o seguinte:


Situação: Uma pessoa se aproxima.

Comportamento: Ana abaixa a cabeça.

Consequência: A pessoa vai embora e Ana sente um alívio por não precisar conversar.


O comportamento de abaixar a cabeça diante de pessoas (esquivar), funciona para que Ana sinta um alívio imediato, pois não precisou conversar. Porém, isso não funciona a longo prazo: o alívio é substituído pela tristeza quando Ana se percebe sem amigos e isolada.

Entender esse padrão é importantíssimo para a mudança e a melhora! A ACT foca em situações atuais, mas alguns terapeutas irão investigar também situações do passado de forma objetiva. A história do cliente é importante para o entendimento de como os padrões de comportamentos foram aprendidos ao longo da vida. Por exemplo, investigando objetivamente a história de vida de Ana, podemos descobrir que ela sofreu bullying na escola durante anos, e que naquela época de sua vida, baixar a cabeça funcionava para que não fosse vista. Olhando com uma lupa, é possível fornecer consciência ao cliente sobre como aprendeu os comportamentos disfuncionais atuais (funcionaram uma vez, mas não funcionam mais), proporcionando compaixão com as próprias dificuldades e clareza para a mudança.


A partir disso, basicamente, o objetivo principal da ACT é o desenvolvimento da flexibilidade psicológica, composta por alguns pilares:


Consciência Plena (Mindfulness)


Normalmente nossa mente tende a viajar para o passado, ruminando acontecimentos, ou para o futuro, tentando prever o que irá acontecer. Através da capacidade de consciência plena, conseguimos direcionar nossa atenção ao presente, ao “aqui e agora”. A ACT tem como objetivo desenvolver essa habilidade, que é essencial para que o indivíduo consiga tomar decisões conscientes e fora do piloto automático. Ainda, o Mindfulness contribui para a capacidade de identificar a presença de pensamentos, emoções (sentimentos) e comportamentos. Somente é possível lidar com pensamentos e sentimentos dolorosos de forma eficaz se soubermos identificá-los!


Aceitação


Muitas vezes a palavra aceitação é compreendia de forma equivocada. NA ACT, quando falamos sobre aceitação, de forma alguma nos referimos a não agir, muito pelo contrário, a aceitação antecede a mudança e o direcionamento ao que importa para o cliente! A ACT indica a importância da aceitação de pensamentos e emoções, considerando que não temos controle sobre tais - não escolhemos pensar o que pensamos ou sentir o que sentimos.

Para exemplificar a ausência de controle em relação os pensamentos, peço para que você NÃO pense, em hipótese alguma, em um bolo de chocolate quentinho, com uma caldinha escorrendo e uma fumacinha saindo dele... Você não pensou? Hmm, acho difícil que não tenha pensado! Ter X ou Y pensamento não é uma escolha e tentar extinguir pensamentos, além de ser impossível, pode fazer com que eles tomem uma proporção ainda maior e causem ainda mais sofrimento. Da mesma forma, com as emoções. Não escolhemos sentir ansiedade, medo, tristeza, raiva. A ACT acredita que a aceitação desses sentimentos possibilita uma forma mais saudável de lidar com eles.


Pensamentos são pensamentos!


A ACT ajuda o cliente a se descolar de seus pensamentos e perceber pensamentos como pensamentos, apenas! O que pensamos não necessariamente dita quem somos, quem os outros são ou o que vai acontecer. Não precisamos esperar nossos pensamentos mudarem para, só depois disso, agir! Perceber o que se está pensando, apesar de parecer simples, na prática é bastante complexo e somente vivenciando tal experiência é possível compreendê-la.


Clareza e comprometimento com valores!


Esse é o objetivo final, que o cliente possa viver a vida que realmente deseja viver (e isso é uma escolha individual de cada um). A ACT procura tornar o indivíduo mais autoeficaz em tomar as decisões que irão, de fato, aproximá-lo do que ele deseja. A intenção é que o cliente consiga parar de brigar e depositar toda a sua energia na luta contra suas dificuldades (pensamentos, sentimentos e, às vezes, circunstâncias), e, ao contrário disso, consiga se direcionar ao que realmente importa para ele!





Você gostou? Espero que você tenha compreendido um pouco sobre o que é e como funciona essa abordagem! Para saber mais, indico leitura do livro “Saia da sua mente e entre na sua vida” de Steven Hayes, da editora Sinopsys




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